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O milagre da cerveja que renasceu das cinzas

Segundo a mitologia grega, a fênix é uma ave como nenhuma outra: com suas asas douradas e de penas brilhantes, este pássaro que possui mais ou menos o tamanho de uma águia consegue suportar cargas enormes em suas presas, podendo carregar dezenas de homens ou até mesmo elefantes pelos ares. Símbolo da imortalidade, diz-se que a fênix vive em ciclos de aproximadamente 97 mil anos e que, ao final de sua vida, entra em combustão e renasce das cinzas. Igualmente, atribui-se às cinzas da fênix um poder único e especial de reviver os mortos. Não à toa, o assunto da coluna de hoje é sobre uma cerveja especial, uma receita renascida das cinzas e cujo logotipo faz uma homenagem ao pássaro imortal fênix.

A nossa história começa em 1.128, ano em que foi construída a abadia de Grimbergen, ao norte de Bruxelas, capital da Bélgica. Lar dos monges da região, o local possuía também plantações de subsistência e uma cervejaria em funcionamento. Fonte de renda para os monges, a abadia acabou sofrendo um assalto dos revolucionários franceses em 1.795, o que ocasionou na destruição de grande parte do monastério além da suposta destruição da receita original da cerveja ali confeccionada. Isto é: suposta destruição.

Digno de um filme de aventura, aparentemente os livros que continham a receita original foram salvos a tempo pelos monges e trancafiados num esconderijo secreto, dentro de um buraco na biblioteca. Prontos para reviver a tradição, os monges hoje em dia resolveram se empenhar na tradução dos manuscritos em latim e holandês arcaico para reproduzir as receitas do século 18 que haviam desaparecido. 

Segundo o padre Karel Stateumas em depoimento para o jornal inglês The Guardian: “Nós possuíamos muitos livros com receitas antigas, mas ninguém conseguia lê-los. Eles estavam todos escritos em latim ou holandês arcaico e por isso trouxemos voluntários [para traduzi-los]. Passamos horas folheando os livros antigos e acabamos descobrindo listas de ingredientes dos séculos anteriores, o lúpulo que era usado, os tipos de barris e garrafas, e até mesmo uma lista com as cervejas produzidas séculos atrás”.

De acordo com a descrição oficial da cerveja publicada no portal de notícias CNN Internacional: “para começar, trata-se de uma cerveja envelhecida em tonéis de carvalho francês, utilizados para envelhecer burbons e uísques, no qual é adicionada a levedura para dar um toque de fermentação. Durante este período, diminuem os sabores fenólicos frutados e picantes e também do coentro, permitindo com que os sabores maltados, doces e de baunilha do tonel de uísque entre em contato com a bebida”.

Após 224 anos de confinamento, e assim como a fênix que renasce das cinzas ainda mais forte, esta nova-antiga cerveja sagrada sairá dos armários empoeirados e ganhará as ruas já no ano que vem, em 2020, com expectativa de produção de 1 milhão de litros anuais, voltados principalmente para os mercados belga e francês.

Com informação de: CNN, The Guardian, Veja e Wikipédia

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Malt Liquor: controversa e adorada

Como um bom grupo de exigentes consumidores, o público cervejeiro é bem específico quanto aos seus gostos. Existem aqueles que preferem uma cerveja mais leve e refrescante, outros não abrem mão de sua cerveja de trigo encorpada. Entre uma e outra, existe aquela famigerada cerveja controversa, praticamente uma anti-IPA, rechaçada pela comunidade cervejeira. Hoje, falaremos um pouco sobre a Malt Liquor.

Mais consumida e produzida pelos norte-americanos, a Malt Liquor é uma senhora lager, carregada principalmente de cereais não maltados e com pouca incidência de lúpulo. O resultado é uma bebida potente, com alto teor alcóolico e sabor considerado “aguado” para os paladares mais aguçados.

Embora não seja muito popular em solo brasileiro, lá nos Estados Unidos existe toda uma cultura da forty-once, ou quarenta onças, como é conhecida a garrafa de Malt Liquor por lá. O termo está associado diretamente à festas e noites de bebedeira, principalmente pelo seu tamanho (equivalente a uma garrafa de dois litros) e, em geral, baixo custo.

Mas engana-se quem pensa que uma Malt Liquor é uma invenção da indústria moderna. Segundo a publicação People’s Journal, a primeira referência que se tem escrita sobre a bebida data o século XVII, em 1690. Parece, portanto, que a diversão norte-americana foi importada diretamente da ex-côlônia…

Atualmente, existem versões com mais ou menos açúcares adicionados à fermentação, o que confere uma bebida entre 6% e 9% de ABV em média, podendo chegar a um teor alcóolico de 12% – equivalente a um vinho comum. De cor amarela clara, variando entre 10 e 25 IBU, recomenda-se um copo clássico de pint para consumi-la – ainda que os nossos vizinhos norte-americanos prefiram utilizar o clássico copo colorido de papel.

Seja você um apreciador de uma Malt Liquor ou não, uma coisa é fato: como diria Oscar Wilde, “A única coisa pior do que falarem de você é não falarem de você”.