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Bom de copo Histórias da Cerveja

Berliner Weisse – a Champanhe do Norte

O que é, o que é: uma cerveja de trigo sour, de origem alemã, mais precisamente de Berlim e adorada por Napoleão? Adivinhou se você respondeu “Berliner Weisse”.

Literalmente “a branca berlinense”, a Berliner Weisse possui uma história envolta de mistérios e imprecisões documentais, cujo quebra-cabeça temporal desta bebida remonta lá atrás, no ido século 16. Segundo o mundialmente conhecido pesquisador britânico Michael Jackson, em seu livro “The World Guide to Beer” (ou “O Guia Mundial da Cerveja”, em tradição-livre para o português), nem mesmo em Berlim esta cerveja nasceu, senão em Hamburgo, cidade ainda mais ao norte da Alemanha, próxima à fronteira com a Dinamarca. Segundo o pesquisador, uma receita hamburguesa teria sido copiada pelo cervejeiro Cord Broihan e trazida à Berlim no século 16, tornando-se extremamente popular na cidade por volta de 1640 graças a outro produtor, o doutor J.S. Elsholz.  

De acordo com o portal Brejas.com.br: “as cervejas do estilo Berliner Weisse diferem-se das brejas de trigo (Weizenbieren) basicamente porque, em sua fermentação, utiliza-se leveduras lácticas. Isso confere às cervejas peculiares notas cítricas e azedas, organolepticamente semelhantes às produzidas pelas brejas no estilo Lambic. Na Alemanha, as cervejas desse estilo são geralmente servidas misturando-se a elas xaropes de frutas, especialmente framboesa e limão”. Não à toa, quando Napoleão invadiu a Alemanha em 1805, ele batizou a Berliner Weisse de “a champanhe do Norte” por conta justamente deste caráter ácido e levemente frutado.

Incrivelmente popular até a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), a Berliner Weisse era a bebida alcóolica mais consumida na cidade de Berlim e possuía diversas “modalidades”, de acordo com o gosto e o bolso do cliente e do mestre cervejeiro que a produzia. Por conta do regime de taxação alemão – no qual as cervejas mais alcóolicas pagavam mais impostos do que as menos alcóolicas –, existia uma divisão classista entre as Berliner Weisse mais aguadas, de teor alcóolico mais baixo, e as “Voll-Weisse” (ou, “Weisse plena”), preferida pelos ricos da época. Além do preço final, uma Berliner Weisse poderia possuir tanto 2% de ABV quanto 6% ABV.

Ideal para ser consumida no verão por conta de seu sabor refrescante e ácido, a Berliner Weisse é composta por bastante malte de trigo (entre 30% e 50%) e é fruto de uma fermentação lática, num mosto não fervido. O resultado é uma cerveja bem mais clara e bem menos amarga do que as cervejas Weiss da Baviera, do sul da Alemanha.

Embora tenha praticamente desaparecido do mapa no século 21, a Berliner Weisse ganhou o selo de Indicação Geográfica Protegida de Estilo da União Europeia para garantir as normas e tradições berlinenses dos produtores locais, além de se manter viva no mundo das bebidas alcóolicas. E se até mesmo o Imperador dos Franceses à época elogiou esta bebida por seus traços leves e ao mesmo tempo distintos, quem somos nós, reles mortais, para discordar dele, não é mesmo?

 

Com informação de: Brejas.com.br, O Cru e o Maltado, Price Beer e Wikipédia

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Framboise

Numa pequena região a oeste de Bruxelas, capital da Bélgica, situa-se o lar de um importante – porém não tão conhecido – estilo de cerveja chamado Framboise ou Frambozen. Tanto em francês quanto em flamengo (as duas línguas oficiais deste país europeu) ambas as palavras significam o mesmo: framboesa.

Muito antes dos produtores de cerveja se utilizarem do lúpulo como aditivo de sabor à bebida, uma série de frutos e vegetais eram adicionados às cervejas de estação. E foi com base na framboesa que esta cerveja de trigo, de fermentação espontânea, ganhou seu destaque no mercado internacional.

Segundo o portal Beer & Brewing, a base desta cerveja lambic é de 30% a 40% de trigo combinados com 60% a 70% de cevada maltada. De acordo com o mesmo portal, “todo o lúpulo utilizado nesta produção de lambic é envelhecido intencionalmente com a finalidade de diminuir o óleo aromático e o iso-alfa-ácido, reduzindo o aroma do lúpulo e seus componentes de amargor”.

Durante seu processo de fermentação, o mosto é transferido a barris de carvalho e posteriormente passam por um processo de envelhecimento que pode durar até um ano. Após este longo período, adiciona-se então as framboesas para uma segunda etapa de envelhecimento que pode durar de um mês a outro ano inteiro, dependendo da demanda do produtor.

A composição de frutos verdadeiros ou xaropes de framboesa, além da adição de adoçantes naturais (ou não) varia de produtor a produtor. Por se tratar de uma bebida tipicamente seca e por muitas vezes considerada “azeda”, houve já o tempo em que açúcar era oferecido junto ao cliente para adoçar, a sua maneira, esta inusitada cerveja lambic.

Com um aroma inconfundível de framboesa, esta cerveja apresenta, em geral, uma coloração clara (entre 0 e 10 IBUs), medianamente encorpada e levemente ácida nas bebidas mais jovens. Ideal para ser servida a 7ºC, num copo lambic estilo flauta, esta iguaria europeia acompanha bem sobremesas de chocolate, sorvetes e caviar. Mais fino que isso, impossível!

 

Com informações de: BJCP, Beer & Brewing Magazine e Merchant du Vin

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Oud Bruin – Uma Senhora Belga

Nascida no século XVII, esta quatrocentona da região de Flandres, no norte da Bélgica, surgiu com um propósito: testar a paciência dos jovens. Por ser uma cerveja de maturação lenta, seu processo de fermentação pode levar semanas, seguido de meses de envelhecimento após seu engarrafamento. Entre confeccioná-la e prová-la, o brinde pode demorar até um ano inteiro. Também conhecido como Flanders Brown Ale em inglês, o estilo Old Bruin – que significa literalmente “velho marrom”, em português – faz parte da família das cervejas de alta fermentação, mas é mais conhecido pelo seu sabor ácido, ligeiramente “azedo”, graças aos processos naturais que esta bebida enfrenta ao longo de sua vida. Contrárias à prima Flanders Red (Flandres Vermelha) que é envelhecida em barris fechados de carvalho, as “velhas marrons” ganham corpo em recipientes abertos. O produto a ser maturado ainda pode sofrer modificações antes de ser engarrafado – como por exemplo a mistura de ingredientes, como ervas e outras bebidas – caracterizando-se como uma cerveja, por vezes, híbrida. De coloração marrom-escura, com uma espuma firme e aroma doce, é possível encontrar uma Old Bruin entre 4% a 8% de álcool (ABV). A bebida harmoniza com queijos mais fortes e é ideal para ser consumida num dia de calor – uma vez que sua acidez garante ainda mais a sensação refrescante. Se pararmos para pensar, realmente vale a pena esperar. Pois como dizia o ditado: idade e experiência valem mais do que a adolescência. Com informações de: Beer Advocate, Destino CervejeiroWikipédia