Categories
Bom de copo Histórias da Cerveja

Da capital da cerveja ao seu copo.

Poucas bebidas no mundo têm um endereço fixo, um local para chamar de casa. Assim como nem todo espumante é champanhe, somente aquelas cervejas produzidas de uma maneira específica na cidade de Berlim ganham a alcunha de Berliner Weisse – ou a “branca berlinense”.

Também conhecida como a “champanhe do Norte” graças ao gosto do imperador Napoleão Bonaparte em sua invasão à Alemanha no começo do século 19, a Berliner Weisse nasceu no norte do país, na cidade de Hamburgo, e sua receita teria sido trazida à capital alemã por volta do século 16. Segundo pesquisa do jornal O Democrata, foi graças a um médico e mestre cervejeiro lá pelo século 17 que a bebida caiu no gosto do povo e passou a ser apreciada por toda a população. Também de acordo com a publicação, tratava-se da cerveja mais consumida pelos locais entre a Primeira e a Segunda Guerra Mundial. Um dos motivos é que, além do excelente baixo preço de venta, a Berliner Weisse possuía um quê de diferente das outras bebidas da região. Vamos por partes.

Na época, o regime de impostos alemão cobrava o valor das bebidas de acordo com o seu álcool por volume, hoje expressado pela sigla em inglês ABV (alcohol by volume). Bebidas mais fortes eram mais caras e, portanto, mais consumidas pela elite; já as bebidas menos alcóolicas eram menos caras e consequentemente mais populares. Mas ao contrário das tradicionais cervejas de trigo consumidas no mesmo período, a Berliner Weisse utilizava uma fermentação diferente, com o emprego de lactobacilos vivos no mosto, o que conferia menor teor alcóolico e uma surpreendente combinação de acidez e refrescância – embora, em termos de acidez, ainda menor do que uma Lambic tradicional.

Foi neste mesmo período que o bioquímico Max Delbrück conseguiu isolar a bactéria utilizada para a confecção da Berliner Weisse, batizando o lactobacilo com o sugestivo nome de Lactobacillus delbrückii. Quase um século mais tarde, este tipo de bebida ganhou o selo de Indicação Geográfica Protegida de Estilo da União Europeia por conta de sua produção e confecção originária, de acordo com as regras estipuladas pelos produtores locais.

Orgulho regional e de apreciação mundial, costuma-se indicar uma Berliner Weisse com alimentos mais gordurosos, como queijos, embutidos e peixes tipo arenque em sua harmonização. Com baixa presença de lúpulo e teor de amargor, que varia entre 3 e 8 IBU, de cor dourada clara, entre 2 e 3 SRM, e baixo teor alcoólico, entre 2,8% e 3,8% ABV, embora esta cerveja também tenha sofrido com o duro golpe da invasão das Lagers na segunda metade do século 19 na região, a Berliner Weisse parece renascer, mais brilhante do que nunca, em pleno século 21, com sua receita sendo exportada para o mundo todo.

Categories
Bom de copo Histórias da Cerveja

Berliner Weisse – a Champanhe do Norte

O que é, o que é: uma cerveja de trigo sour, de origem alemã, mais precisamente de Berlim e adorada por Napoleão? Adivinhou se você respondeu “Berliner Weisse”.

Literalmente “a branca berlinense”, a Berliner Weisse possui uma história envolta de mistérios e imprecisões documentais, cujo quebra-cabeça temporal desta bebida remonta lá atrás, no ido século 16. Segundo o mundialmente conhecido pesquisador britânico Michael Jackson, em seu livro “The World Guide to Beer” (ou “O Guia Mundial da Cerveja”, em tradição-livre para o português), nem mesmo em Berlim esta cerveja nasceu, senão em Hamburgo, cidade ainda mais ao norte da Alemanha, próxima à fronteira com a Dinamarca. Segundo o pesquisador, uma receita hamburguesa teria sido copiada pelo cervejeiro Cord Broihan e trazida à Berlim no século 16, tornando-se extremamente popular na cidade por volta de 1640 graças a outro produtor, o doutor J.S. Elsholz.  

De acordo com o portal Brejas.com.br: “as cervejas do estilo Berliner Weisse diferem-se das brejas de trigo (Weizenbieren) basicamente porque, em sua fermentação, utiliza-se leveduras lácticas. Isso confere às cervejas peculiares notas cítricas e azedas, organolepticamente semelhantes às produzidas pelas brejas no estilo Lambic. Na Alemanha, as cervejas desse estilo são geralmente servidas misturando-se a elas xaropes de frutas, especialmente framboesa e limão”. Não à toa, quando Napoleão invadiu a Alemanha em 1805, ele batizou a Berliner Weisse de “a champanhe do Norte” por conta justamente deste caráter ácido e levemente frutado.

Incrivelmente popular até a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), a Berliner Weisse era a bebida alcóolica mais consumida na cidade de Berlim e possuía diversas “modalidades”, de acordo com o gosto e o bolso do cliente e do mestre cervejeiro que a produzia. Por conta do regime de taxação alemão – no qual as cervejas mais alcóolicas pagavam mais impostos do que as menos alcóolicas –, existia uma divisão classista entre as Berliner Weisse mais aguadas, de teor alcóolico mais baixo, e as “Voll-Weisse” (ou, “Weisse plena”), preferida pelos ricos da época. Além do preço final, uma Berliner Weisse poderia possuir tanto 2% de ABV quanto 6% ABV.

Ideal para ser consumida no verão por conta de seu sabor refrescante e ácido, a Berliner Weisse é composta por bastante malte de trigo (entre 30% e 50%) e é fruto de uma fermentação lática, num mosto não fervido. O resultado é uma cerveja bem mais clara e bem menos amarga do que as cervejas Weiss da Baviera, do sul da Alemanha.

Embora tenha praticamente desaparecido do mapa no século 21, a Berliner Weisse ganhou o selo de Indicação Geográfica Protegida de Estilo da União Europeia para garantir as normas e tradições berlinenses dos produtores locais, além de se manter viva no mundo das bebidas alcóolicas. E se até mesmo o Imperador dos Franceses à época elogiou esta bebida por seus traços leves e ao mesmo tempo distintos, quem somos nós, reles mortais, para discordar dele, não é mesmo?

 

Com informação de: Brejas.com.br, O Cru e o Maltado, Price Beer e Wikipédia